Por Daniel Agapito
Para aqueles que não estão familiarizados, o Kuazar é um dos maiores nomes em ascensão na cena do metal paraguaio, tendo sido formado no ano de 2002. Em junho deste ano, Josema Gonzalez (vocal e guitarra), Marcelo Saracho (baixo) e Ratty Gonzalez (bateria) lançaram de forma independente seu segundo trabalho de estúdio, “Hybrid Power”, um álbum que combina elementos do thrash metal moderno com toques da cultura paraguaia. Conseguimos conversar com o fundador Josema Gonzalez para saber mais detalhes da nova fase e sobre a ligação da banda com o Brasil.
Conceitualmente, qual é a ideia por trás do “Hybrid Power”?
Josema Gonzalez: “Hybrid Power” surge de uma ideia intrigante de que somos verdadeiramente uma mistura de muitas coisas e também uma colisão de culturas enormes. Não somos europeus, mas também não somos indígenas. Somos uma mistura que acaba criando algo único, que afeta nossos costumes de muitas maneiras. Por exemplo, temos pessoas de olhos azuis e cabelo loiro falando guarani aqui no Paraguai, no Brasil temos o chimarrão, que é uma bebida guaranítica, sendo apreciada por imigrantes europeus e também afrodescendentes e já incorporada à sociedade como algo nosso (sul-americano). Portanto, o álbum deriva desse poder da mistura, da realidade híbrida que cria algo tão bonito e único como o povo sul-americano.
Como descreveria a evolução do som do Kuazar desde o primeiro disco, “Wrath of God” (2009)?
Josema: Bem, acredito que, essencialmente, aprendemos a aprimorar as músicas na prática. “Wrath of God” é um álbum complexo com muita informação musical. Em “Hybrid Power”, focamos mais no que as músicas estavam pedindo. Acredito que, por ser um álbum igualmente complexo, ele soa mais coeso como um todo.
Vocês lançaram três singles, incluindo “Obscure & Violent” e “Silence”. A letra de “Obscure & Violent” aborda a natureza violenta da sociedade, enquanto “Silence” fala sobre o suicídio. Quais são outros temas líricos presentes no novo LP?
Josema: “Hybrid Power” foi criado com calma; levamos nosso tempo para produzir as faixas. Certamente, muitas questões pessoais e emocionais foram incorporadas ao álbum. Todos os membros do Kuazar passaram por diversas experiências, como nascimentos, mortes, casamentos e separações. Tudo isso acabou se transformando em música. Portanto, apesar de ser um álbum de metal, ele também tem um caráter introspectivo. “Hybrid Power” começa com a frase “worlds colliding in my veins”, e, obviamente, fala sobre a colisão de mundos que moldou o sul-americano dos dias atuais. “Machete che pope” explora um fragmento triste da história da América do Sul. Além disso, temos “There for me”, que serve como uma continuação de “Silence”, abordando questões relacionadas à depressão e à luta interna de uma mente atormentada. “Antagonist” é uma música dedicada àquelas pessoas que só sabem criticar tudo o que você faz, e assim por diante. É um álbum que explora tanto o interior quanto o exterior dos seres humanos.
Houve uma grande polêmica com o clipe de “Machete che pope (Acosta ñu)” no Paraguai. Como foi isso?
Josema: A batalha de Acosta Ñu (batalha de Campo Grande) foi um dos momentos mais sangrentos, violentos e tristes da guerra da tríplice aliança (guerra do Paraguai). Foi onde crianças foram mortas e queimadas vivas, juntamente com as mulheres e os poucos homens que restavam lá. No entanto, esse fato não é isolado. Dias antes, na batalha de Piribebuy, o Conde d’Eu mandou queimar o hospital e decapitar todos os homens em frente à igreja da cidade. O Kuazar, ciente dessa história, decidiu gravar o clipe dentro dessa igreja histórica. Tivemos a autorização do sacerdote que dirige a igreja, e usamos crianças para representar as crianças mortas na guerra (as meninas que aparecem no vídeo são minhas filhas, Olivia e Helena). Se você conhece a história, entenderá que usamos a localização pelo seu valor histórico e pela riqueza cultural do local. No entanto, uma banda de metal abordando um genocídio dentro de uma igreja é um prato cheio para os jornais sensacionalistas, e fomos chamados de satânicos por vários jornais de escala nacional. Também aparecemos na TV em programas de fofoca, onde os apresentadores ficaram chocados, pois nem mesmo conheciam a história do que aconteceu ali. No final, isso acabou servindo muito para divulgar o vídeo, mas no início foi complicado, pois as pessoas que concederam as permissões acharam que tínhamos mentido sobre o conteúdo das músicas. No entanto, tudo foi esclarecido, e só fica o relato do terrível genocídio que ocorreu.
Como foi o processo de produção do novo disco?
Josema: Foi um processo longo. Já tínhamos os esqueletos de todas as canções e também fragmentos de várias coisas. Logo tivemos a inclusão de Marcelo Moreira (ex-Almah) que desempenhou o papel de produtor artístico e baterista neste disco, e, obviamente, com outro músico interagindo, mais ideias surgiram! Trabalhamos muito nas vozes e nas ideias para os refrões; foi um processo muito legal. Também passamos um tempo na Califórnia e gravamos as linhas de voz no estúdio chamado Fuel Music Studios (Anaheim). Foi realmente uma experiência rica, que nos levou a três países: Paraguai, Brasil e Estados Unidos. Para finalizar, contamos com a participação de Adrian Ortiz como produtor adicional. Ele me ajudou a encaixar os solos e sua opinião foi muito válida na hora de tomar algumas decisões relacionadas a algumas composições do disco. Foi vital tê-lo, especialmente no final do processo.
Como você diria que a cena metal paraguaia evoluiu desde a formação de vocês? E o intercâmbio com o Brasil?
Josema: O Kuazar, em particular, sempre tocou muito no Brasil. Temos grandes amigos por lá, e também contamos com a participação do Moreira na banda. O vínculo é real e muito natural para nós. Já tocamos com o Claustrofobia, Violator, Ratos de Porão, Sepultura, NervoChaos, Jailor, Headhunter D.C., Chakal, Korzus e estivemos em festivais como o extinto Zoombie Ritual e o Armagedon, que ainda está ativo. No Zoombie Ritual, era para ter tocado o Destruction, mas não foi possível, deu tudo errado. No entanto, o Kuazar subiu ao palco e arrebentou, embora tenha sido um momento tenso, com cerca de 5 ou 6 mil pessoas. O intercâmbio sempre foi positivo para nós, e muitas bandas brasileiras vieram ao Paraguai com nosso trabalho, incluindo Krisiun, Torture Squad e outras. A cena do Paraguai também tem bandas excelentes, como Flou, Steel Rose, Axis Mundi, DTI e BZIDE. A galera do Brasil sempre curte as bandas do Paraguai, e acho que vocês deveriam dar uma boa olhada, pois a cena por aqui está muito boa!
Quais são os planos para o futuro?
Josema: Estamos explorando métodos para distribuir o disco e fechando datas. Em breve, estaremos no Brasil com vocês!
Ouça “Hybrid Power” nas plataformas de streaming em https://orcd.co/kuazar-hybridpower
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