Por Átila Marconcine
Fotos: Arianny Rosso Beviani / Garage Tapes Prod
Após um dia de temperaturas amenas em Londrina (PR), às 19h30 do dia 12 de abril de 2024 o Valentino Bar abriu suas portas para receber a turnê sul-americana da lendária banda de death metal Master. Com organização da SpeedFreak Agency, além do trio americano, a turnê contava também com os brasileiros do Escarnium nas datas do Brasil. Em Londrina, para completar a festa, o line-up incluia também os paulistas do Rotborn e a banda local Guro.
Aproximadamente às 21h, o Guro subiu ao palco para realizar a abertura do evento. A sonoridade do grupo consiste em um death/grind que foge um pouco do tradicional, com os riffs do guitarrista Bruno Esser trazendo um diferencial para a banda, remetendo ao álbum Spheres (1993) do Pestilence em músicas como Maconha 666, O Diabo Está Entre Nós e Missa Profana. O vocal de Eron Gravepüking e a rapidez nas baquetas de Kiko, trazem à tona o lado grindcore do trio, que fez uma ótima apresentação. Ao final, mandaram um cover de Mass Hypnosis do Sepultura. O público, apesar de até então pequeno, agitou bastante, com os presentes batendo cabeça ao longo das 20 músicas do setlist.
Depois de uma longa pausa, às 22h10 a lendária banda de death metal Master sobe ao palco. Sim, o Master foi a segunda banda a tocar no evento, o que pegou vários fãs de surpresa. O fato ocorreu devido ao ônibus dos americanos e do Escarnium ter atrasado. Antecipar o show do Master, na minha opinião, foi uma boa solução da organização, com a banda tocando mais cedo os presentes teriam a opção de ir embora após o Master, uma vez que sexta-feira é dia útil. E, spoiler: apesar dessa opção, o público continuou no local para contemplar as duas apresentações das bandas brasileiras Escarnium e Rotborn.
Em virtude do mencionado atraso, o Master se dirigiu diretamente ao palco para a passagem de som, o que, aliás, foi breve. Ao término, o frontman Paul Speckman brada: ”We are Master”. E asssim ele deu início ao show com a própria Master, música do autointitulado disco de estreia da banda.
Com um setlist voltado aos dois primeiros álbuns, o Master executa com maestria aquele old school death metal com elementos de thrash, sonoridade bem comum das bandas do estilo que surgiram em meados da década de 80. Aos 60 anos de idade, Speckmann não deixa transparecer a idade. Com vocais apurados e uma timbragem de baixo magistral, o mesmo esbanjou virtuosismo executando uma série de solos no decorrer da apresentação.
Apesar de Paul roubar a cena, o guitarrista Alex ”93” Nejezchleba e o baterista Peter Bajci (também conhecido como Lord Izual), ambos tchecos, são nomes que não merecem passar batido. Alex, pela execução primorosa de riffs, e Peter pela rapidez no comando das baquetas. O show, apesar de relativamente curto (cerca de 45 minutos), foi direto ao ponto. O encerramento, no auge, veio com a excelente Funeral Bitch. O ótimo show refletiu uma parcela significativa do público na banca de merchandise do Master, seja para tirar foto com Paul Speckman, ou para comprar camisetas da banda.
Após quinze minutos de pausa, o Escarnium já entrava em ação. A sequência inicial foi simplesmente destruidora, com Inglorious Demise, Far Beyond Primitive e Deluged in Miasma, todas do excelente álbum Dysthymia (2022). A atuação da banda foi impecável durante todo o show, com um grande destaque para a velocidade e precisão do baterista Nestor Carreira.
A acústica do local e a manipulação da mesa de som (feita por Kiko, do Guro) trouxeram aquele ar mais cavernoso de death metal que o Escarnium pratica. O vocal do guitarrista Victor Elian em conjunto com os backing vocals do baixista Gabriel Dantas deu uma total imersão nesse sentido. Já os solos de guitarra de David Ferreira complementam bem a atmosfera, beirando a perfeição em Through the Depths of the 12th Gate.
Confesso que senti falta de alguma coisa do debut Excruciating Existence (2012), porém foi totalmente compreensível a ausência de sons desse álbum, visto que o setlist em si foi curto, provavelmente pelos atrasos já mencionados. Apesar disso, o Escarnium destruiu tudo, com os presentes bangeando do início ao fim.
O último show da noite ficou a cargo dos paulistas do Rotborn. Eles entraram no palco um pouco antes da meia-noite, e apesar do horário o público ainda se encontrava no local, contudo em número menos expressivo em relação às outras apresentações. A energia desta banda ao vivo é coisa de outro mundo, principalmente pela presença de palco do vocalista Luís Felipe e pela técnica do já citado baterista Nestor Carreira. Completando o line-up, o baixista Jeferson Tarzia e o guitarrista Vitor Caricati também surpreenderam.
Trazendo uma sonoridade death metal com notáveis influências de hardcore, o Rotborn foi uma grata surpresa, músicas como Moral Grudge, Cleptoplutocracy e The Void Eater do único ‘full-length’ da banda, On the Perspective of an Imminent Downfall (2022), juntamente com Genocidal Resolution e Rules of Manipulation, do EP Genocidal Resolution (2022), foram o auge da noite.
Com o evento encerrado próximo de uma hora da manhã, a sensação de satisfação de ver death metal bem executado por todas as bandas, cada uma com seu diferencial, foi indescritível. A acústica do Valentino ajudou bastante a moldar esse sentimento, e apesar da cerveja ser um pouco cara, o local provou ser um excelente espaço para eventos de metal, algo que não acontece com frequência no bar. Outros pontos positivos a se destacar são o atendimento dos funcionários e o ambiente amplo e climatizado. Que esse espaço abra a porta mais vezes para eventos que celebrem o metal da morte.
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