- Summer Breeze Open Air Brasil: vitória no primeiro jogo
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HOT STAGE
KRISIUN
Por Daniel Dutra
Se você está lendo esta resenha, provavelmente também já leu ou ouvir falar que o Krisiun é um dos grandes nomes do metal nacional em todos os tempos e, claro, um das maiores bandas do death metal mundial – senão a maior, acrescento. Para quem acha um exagero, é preciso lembrar que o público presente à abertura do segundo dia do Summer Breeze brazuca, exatamente para ver Alex Camargo (baixo e vocal), Moyses Kolesne (guitarra) e Max Kolesne (bateria) em ação, era consideravelmente maior do que o do dia anterior.
E isso com um sol para cada um às 11h no Hot Stage, um dos dois palcos principais do festival, o que fez Alex agradecer a todo instante aos fãs que chegaram cedo, até mesmo com bom humor ao lembrar que o hábito dos paulistas de tomar café da manhã na padaria – na verdade, ‘padoca’ para os locais – deu lugar à ingestão de substâncias menos saudáveis, digamos assim.
O show? Foi um massacre, obviamente, e com a louvável iniciativa de valorizar o trabalho mais recente – afinal, é por isso que as bandas devem lançam novos discos. O excelente “Mortem Solis” (2022) cedeu três músicas, a começar por “Swords Into Flesh”, que fez a ponte entre o passado – com “Ravager”, faixa de “Conquerors of Armageddon” (2000) que abriu a apresentação – e o presente.
“Serpent Messiah” e a obra-prima “Necronomical” foram as outras duas mais recentes, sendo que esta última reforçou o lado mais cadenciado – ou mais metal ou menos death – do Krisiun, levando além o que o trio gaúcho havia mostrado já no início da apresentação, com a levada e os ótimos riffs de “Descending Abomination”, extraída de “The Great Execution”, álbum de 2011 que apareceu também com “Blood of Lions”, cuja recepção do público reforçou seu status de clássico.
Se em algum momento foi possível sentir falta de mais músicas de “Scourge of the Enthroned” (2018), porque apenas a faixa-título foi executada, ou de qualquer canção do magistral “Forged in Fury” (2015), isso logo caiu por terra por fatores bem específicos. Primeiro porque a banda teve somente 50 minutos para passar por cima de todo mundo e mostrar a força do metal nacional “doa a quem doer”, como bem frisou Alex repetidas vezes.
Segundo porque foram 50 minutos de brutalidade com musicalidade e técnica – o vocal de Alex é um dos melhores do gênero; Moyses desfila uma quantidade absurda de grandes riffs e não poupa nos solos; e Max… Bem, esse cara toca daquele jeito absurdo com a leveza de quem está numa banda de jazz. E se você não entendeu, isso é um baita elogio.
Terceiro e último porque, meu amigo, o Krisiun mandou ver em mais uma execução primorosa de “Combustion Inferno”, uma de suas melhores músicas, e fez o cover de “Ace of Spades”, do Motörhead, com direito a coro de “Lemmy! Lemmy” puxado por Alex, soar com um hino hard rock de arena em meio ao material próprio. É para poucos. E é só para quem pode.
H.E.A.T
Por Daniel Dutra
As primeiras horas do Summer Breeze no domingo foram o exemplo de como um festival europeu pode trazer para o Brasil uma mais do que necessária mentalidade: a da diversidade musical. A área principal começou com o Krisiun, passou pelo Grave Digger e chegou ao H.E.A.T, sem dramas e com o público ou curtindo ou mostrando o devido respeito a quem estava em cima do palco.
Ponto para todo mundo, mas pontos especiais para Kenny Leckremo (vocal), Dave Dalone (guitarra), Jimmy Jay (baixo), Jona Tee (teclados) e Don Crash (bateria), que fizeram o que muitos consideraram o melhor da primeira edição brasileira do festival germânico. E não há exagero algum nisso, porque os suecos realmente fizeram uma apresentação irretocável em todos os sentidos, com músicas irresistíveis sendo a trilha sonora para uma recepção de gala por parte do público.
Tão de gala que os próprios músicos não escondiam feições que passaram de surpresa à alegria completa. Leckremo, que se enrolou com uma bandeira do fã-clube brasileiro, era só sorrisos e por vezes não escondeu estar emocionado. Também, pudera: mesmo as duas músicas do álbum mais recente, “Force Majeure” (2022), foram cantadas com entusiasmo pela grande e realmente surpreendente quantidade de fãs do H.E.A.T.
Se “Back to the Rhythm” abriu o show escancarando que a banda tem muita moral no país, “Hollywood” ratificou o encantamento sueco com o público cantando uma canção nova de uma banda como não aconteceu em nenhum outro momento do Summer Breeze. Você pode até pensar que é fácil angariar fãs com músicas tão maravilhosamente grudentas, mas, veja bem, não é nada fácil criar músicas tão maravilhosamente grudentas. Estamos falando de algo superlativo.
Isso vale até mesmo para a surpreendente inclusão de “Redefined” no repertório, uma vez que se trata de uma faixa do experimental “Into the Great Unknown” (2017), ótimo álbum que fez alguns fãs torcerem o nariz. No passado, afinal, o refrão foi cantado com vontade no presente do Summer Breeze. E o H.E.A.T passeou por todos seus sete discos de estúdio, trazendo parte do início da banda com Leckremo – que, diga-se, deixou sua presença de palco ser tomada pela emoção: ajoelhou, deitou, rolou e distribuiu carisma.
“Beg Beg Beg”, de “Freedom Rock” (2010), e a estupidamente contagiante “1000 Miles”, de “H.E.A.T” (2008), fizeram a festa de quem acompanha os suecos desde o início, mas foi a fase do ex-vocalista Erik Grönwall – que se apresentou com o Skid Row no dia anterior – que tomou conta do festival. O show atingiu seu ápice com as sensacionais “Living on the Run”, de “Address the Nation” (2012), e “A Shot at Redemption”, de “Tearing Down the Walls” (2014), que encerraram uma apresentação que Leckremo deixou claro em palavras que não queria que acabasse.
Mas foi “H.E.A.T II” (2020) o trabalho que dominou o setlist. Não à toa, porque o último trabalho com Grönwall, um dos melhores do hard rock contemporâneo, gruda mais que chiclete em cabelo. Enquanto “One By One” foi uma viagem àquelas trilhas sonoras inesquecíveis de filmes dos anos 1980, “Come Clean”, “Dangerous Ground” e “Rock Your Body” foram momentos de puro êxtase do palco para o público, e vice-versa. Na verdade, você pode pensar em três momentos de catarse, graças aos largos sorrisos nos rostos de todos. Que show incrível, e que o H.E.A.T volte ao Brasil para ontem.
TESTAMENT
Por Heverton Souza
É inevitável começar a falar do Testament no Summer Breeze sem duas reclamações: a primeira sobre a não vinda do baterista Dave Lombardo, que tudo indica que sequer seguirá com a banda após uma publicação do mesmo em tom de despedida, mas sem confirmar qual será seu destino com a banda thrash. E a segunda é quanto ao tempo do show. Dar apenas uma hora de palco para uma banda do porte do Testament chega a ser injusto!
Alguns fãs também questionaram o set, e poderia ser mesmo diferente levando em conta principalmente o tempo curto da apresentação, mas a verdade é que não há show em se tratando de Chucky Billy, Eric Peterson e CIA. Aliás, que companhia!!! Não é segredo que o guitarrista Alex Skonick por si já vale a apresentação, mas ainda com Steve DiGiorgio em palco, temos mesmo um show à parte de estrelas do metal.
Com o sol fritando em todos, a banda começou às 15h15 após a intro “Catacombs”, com “Rise Up”, faixa que abre o melhor disco da banda desde os anos 2010, falo de “Dark Roots of the Earth”. Em seguida, já fomos de volta ao ano de 1988 com os clássicos “The New Order” e “The Preacher” anunciada com toda a potencial vocal de Chuck Billy. E como não se arrepiar com o clássica frase de guitarra logo de cara. É bem verdade que o som da banda começou um pouco embolado, mas isso foi logo ajustado e é muito comum em festivais, já que não tem como todas bandas passarem o som antes de subirem pra valer.
A cavalgada “Children of the Next Level” deu às vezes ao mais recente disco da banda, “Titans of Creation” (2020). E que sensação boa ver Steve DiGiorgio tocando. Sem palhetar, direto nos dedos, o cara toca se divertindo com sua maestria. E faz caras e bocas, interage com o público, um showman. E se acha que alguém fica pra trás, basta ver a o entrosamento das guitarras de Eric e Alex, chega a ser bonito!
“D.N.R.” foi um dos melhores momentos de todo o show e seguida dos ‘Ôôôs’ de “3 Days in Darkness” elas deram vez ao álbum “The Gathering”, o que seria então o momento mais propício para a performance de Dave Lombardo, baterista que gravou o disco de 1999, mas a verdade é que seu substituto, o jovem Chris Dovas, de apenas 24 anos, não nos fez sentir falta alguma do ex-Slayer. O menino é preciso e toda com empolgação, apesar de um certo nervosismo, natural para a ocasião.
A fantástica “The Formation of Damnation” foi a última ali do Testament “atual”, com direito à uma “wall of death” comandada por Chuck, e dela em diante, a sequência foi apenas de clássicos: “Over the Wall”, “Into the Pit”, a mais agitada por todos e a melódica “Alone in the Dark”, que fechou um dos melhores shows do festival. E sim, faltou muita, mas muita coisa, mas com uma hora de palco, só de ter a satisfação de ver o Testament ao vivo, é de lavar a alma de qualquer fã não apenas da banda, mas de thrash metal em si.
KREATOR
Por Leandro Nogueira Coppi
Lembro-me que a última vez em que assisti Kreator ao vivo, justamente na então mais recente visita do grupo ao Brasil, em um outro festival realizado em 2018, saí com o sentimento de que não só havia sido o melhor show da banda que presenciei, como também de que dificilmente o grupo alemão se superaria quando eu tivesse outra oportunidade de assisti-lo. Felizmente, ledo engano de minha parte. Dessa vez, já foi de arrepiar ver a cortina que cobria o palco com o logo da entidade alemã do thrash metal estampado, enquanto ouvia a introdução mecânica “Sergio Corbucci is Dead” que inicia o novo álbum do grupo, “Hate Über Alles”.
Quando os fundadores Mille Petrozza (vocal e guitarra) e Jürgen “Ventor” Reil (bateria), mais o guitarrista Sami Yli-Sirniö e o (estreante em solo brasileiro) Frédéric Leclerq (baixo) começaram a tocar a própria “Hate Über Alles” sob muita fumaça e a cortina caiu revelando um cenário impactante com a capa do disco ao fundo, um enorme inflável da mascote Violent Mind atrás de Ventor dando a impressão de que estava segurando sua bateria com as duas mãos, e também diversos bonecos cobertos por panos vermelhos simulando pessoas enforcadas ou fincadas em lanças então, tive a certeza de que seria surpreendido com um show superior ao de 2018. Na verdade, todos ali foram arrebatados positivamente, como pude constatar durante o decorrer e após a apresentação do Kreator, que em vários momentos contou também grandes labaredas, e recebeu elogios.
A qualidade de som também foi outro fator impecável, tudo auditivamente muito cristalino e equilibrado, ao ponto de os bumbos de Ventor, por exemplo, soarem nítidos e bem timbrados como poucas vezes ouvi em qualquer show de metal – parabéns a quem assume os botões da mesa de som dos shows da máquina de trituração Kreator. Depois da primeira e única amostra do novo álbum, o quarteto alemão começou a apelar, mandando dois de seus clássicos dos anos 80. Iniciando pela indefectível “People of the Lie”, aquela que no breakdown tem uma das viradas de batera mais marcantes do metal. Essa foi responsável pelo primeiro circle pit dos fãs. Depois, a também visceral e extensa “Awakening of the Gods”.
Após a dobradinha old school, o quarteto deu uma passada pelos anos 1990 e 2000, revisitando pedradas como “Enemy of God”, do disco de mesmo nome lançado em 2005, “Phobia”, uma das melhores de “Outcast” (1997) – um dos trabalhos do Kreator que até hoje divide opiniões -, “Satan is Real”, de “Gods of Violence” (2017), “Hordes of Chaos (A Necrologue for the Elite)”, de “Hordes of Chaos” (2009), e “666 – World Divided”, single de 2020.
Depois dessa rajada, Petrozza conversou com o público e brincou dizendo que tinha a impressão de que as pessoas ao fundo, dos lados e as que estavam no palco ao lado esperando pelo Avantasia não estavam participando alto como as que estavam ali na frente. Então, o frontman fez a tradicional provocação para arrancar do público o bloco que gritava mais alto e, empunhando a conhecida bandeira, fez, por duas vezes, o esperado anúncio: “It’s time, to raise, the Flag of Hate!” (É hora de erguer a bandeira do ódio!). Pronto: mais um circle pit garantido!
O show já caminhava para o fim, quando a introdução mecânica “The Patriarch” evidenciou o que viria a seguir: “Violent Revolution”, hino do álbum homônimo de 2001. Para fechar em alta, o Kreator mandou um de seus maiores clássicos: “Pleasure to Kill”. Sob aplausos efusivos, Mille, Samy, Frédéric e Ventor deixaram o palco ao som da instrumental “Apocalypticon” rolando ao fundo. O que dizer? Simplesmente me rendi novamente ao Kreator, que provou a mim e a muitos que ainda é capaz de se superar ao vivo. Está explicado o por que de esse ser conhecido como os reis do teutonic thrash metal? Não à toa, o Kreator continua sendo meu favorito do chamado Big 4 alemão, que, para a maioria, é completado por Sodom, Destruction e Tankard.
PARKWAY DRIVE
Por Ricardo Batalha
O Hot Stage efetivamente pegou fogo com os australianos do Parkway Drive, que atualmente promovem o “Darker Still” (2022) e agora estão com status de headliners em grandes festivais, como no Wacken Open Air, Bloodstock, Resurrection, Hellfest e, claro, no Summer Breeze Open Air da Alemanha e agora na versão brasileira do evento. Vindo de participações no Knotfest do Japão e Austrália, Winston McCall (vocal), Jeff Ling e Luke “Pig” Kilpatrick (guitarras), Jia “Pie” O’Connor (baixo) e Ben “Gaz” Gordon (bateria) entraram em cena por volta das 20h com “Glitch”, do mais recente trabalho, o sétimo completo de sua discografia.
De “Darker Still”, o grupo ainda tocou “Soul Bleach” e a faixa-título, mas bem que poderia ter incluído outras, principalmente “Land of the Lost”, que ainda não foi apresentada ao vivo pela banda e é um das melhores do disco. Seja como for, os fãs ficaram satisfeitos porque o set foi bem variado, seguindo com “Prey”, de “Reverence” (2018). A qualidade de som também merece elogios, pois estava tudo bem equalizado e com um punch desumano. Os riffs com palhetadas abafadas, tocados em conjunto com os bumbos, impressionaram pela precisão – “Dedicated” foi um exemplo.
Sob comando de McCall, que estava vestindo uma roupa inteira branca, os australianos voltaram no tempo com “Carrion”, faixa do segundo álbum, “Horizons” (2007), seguida de “The Void”, mais uma de “Reverence”. “Vice Grip”, um dos destaques de “Ire” (2015), entrou em cena e mostrou o lado mais melódico da banda. Àquela altura, a palavra para quem ainda não conhecia a banda, que já havia passado pelo Brasil em outras ocasiões (2011 e 2014), foi surpresa.
Se muita gente tinha rumado ao Sun Stage para ver o Stratovarius, os milhares que ficaram para o Parkway Drive sentiram o peso cavalar no peito. Assim, eles se juntaram aos seguidores da banda e pularam de forma instintiva ou quando McCall ordenava. O belo cenário combinou, pois em várias ocasiões labaredas de fogo surgiam e davam um efeito ainda mais brutal.
O set seguiu com “Sleepwalker”, de “Deep Blue” (2010), e a variada “Idols and Anchors”, outra de “Horizons”, que tem riffs insanos e partes mais rápidas. Gaz Gordon deu início a mais uma porrada, “Karma”, conhecida como “a do clipe na praia”. A coisa acalmou com “Shadow Boxing” e, principalmente, na balada “Darker Still”, que funcionou ao vivo. “Bottom Feeder” fechou o set, mas os australianos voltaram para o bis com “Crushed” e “Wild Eyes”.
Ovacionado, os músicos deixaram o palco e mataram a saudade dos seguidores que não os viam há quase dez anos. Mais que isso, conquistou muitos novos fãs, alguns que antes da apresentação estavam céticos de que o lugar de destaque para encerrar o evento no palco Hot Stage era mesmo merecido. Sim, era!
ICE STAGE
GRAVE DIGGER
Por Ricardo Batalha
Se os “filhos” estavam na pista do Sun Stage curtindo os “pais” do Accept no sábado, pontualmente ao meio dia de domingo o Grave Digger entrou em cena com “Lawbreaker”, de “Healed by Metal” (2017). No início, a qualidade de som estava embolada e variando, mas foi sendo regulada depois. Felizmente, porque se temos algumas certezas no heavy metal, duas delas são exatamente as mesmas: não existem shows ruins do Grave Digger e nem do Accept.
A tradição do heavy metal alemão se mantém intacta e Chris Boltendahl (vocal), Axel Ritt (guitarra), Jens Becker (baixo) e Marcus Kniep (bateria) seguiram, ainda com a qualidade do som sendo ajustada, com muito metal tradicional em “Hell Is My Purgatory”, do trabalho mais recente, “Symbol of Eternity” (2022), o 21º de estúdio da discografia.
A pegada mais épica da banda veio no comecinho da rápida “Ballad of a Hangman”, faixa-título do álbum de 2009. Como esperado, a mascote Reaper marcou presença no show na pesadíssima “Dia de los Muertos”, de “Return of the Reaper” (2014), E a música até serviu como um teste. Quem não agita e bate-cabeça instintivamente precisa de medicamento, pois para um fã de metal é impossível ficar inerte, assim como em “The House”, faixa de “The Grave Digger” (2001).
A pegada Accept reapareceu na clássica “The Dark of the Sun”, do clássico “Tunes of War” (1996), relembrando a primeira passagem da banda pelo Brasil em abril de 1997, já que naquela ocasião ela abria os shows da turnê. Por sinal, a relação de amor do Grave Digger ao Brasil já rendeu um CD e DVD ao vivo, “25 To Live”, gravado em São Paulo na turnê de “The Last Supper” (2005).
O set seguiu com “Highland Farewell” e “Healed by Metal” até chegar na parte mais épica, com a clássica “Excalibur” e o hino “Rebellion (The Clans Are Marching)”, cantada por todos os fãs e que contou novamente com a mascote Reaper na gaita de fole, após o solo.
Como esperado, o encerramento veio com outro hino, “Heavy Metal Breakdown”. Se existisse uma versão heavy metal do reality show Big Brother (BBB) uma das provas do líder seria “quem conseguir ficar imóvel e estático vendo o Grave Digger ganha”. Eu e os milhares de fãs presentes embaixo do sol no Ice Stage perdemos. Orgulhosamente, registre-se.
BURY TOMORROW
Por Heverton Souza
Assim como aconteceu no sábado com o Stone Temple Pilots tocando para o público do Blind Guardian, o Bury Tomorrow pegou a quente tarde de domingo com a ingrata missão de tocar seu metalcore para um público ensandecido por nomes clássicos do thrash metal, como Kreator e o Testament, que viria justamente a ser a banda seguinte no palco ao lado, o Hot Stage.
Formado em 2006, o sexteto já divulga “The Seventh Sun”, seu sétimo disco de estúdio, lançado já em 2023. E seu set não poupou músicas novas, afinal, de um total de dez, três foram de “The Seventh Sun”: “Abadon Us”, “Begin Again” e “Boltcutter”, que abriu o show dos caras às 14h10.
Aliás, exceto por “Choke”, toda a apresentação dos caras foi feita de singles, o que deve ter deixado bem felizes os fãs brasileiros entre os 86 mil inscritos no canal da banda no YouTube. Fãs esses que se misturavam em meio aos do Testamente naquele momento, mas davam as caras quando o vocalista Daniel Winter-Bates gritava que eram uma banda de metal e queriam a movimentação da galera.
Os demais apenas observavam com respeito ou agitavam por alguns riffs do metalcore com pitadas de industrial, advindas do teclado de Tom Prendergast, que por vezes lembrava algo do Fear Factory mais atual.
A banda toda é bastante técnica e agitada, mas ainda falando do Tom, o músico também performa todos os vocais limpos da banda, lá atrás, fora dos “holofotes”, diferentemente de Daniel. E de todo seu show, claramente a música que teve mais reações positivas dos fãs foi “Cannibal”, faixa-título do sexto álbum dos ingleses, lançado em 2020.
Mas é fato que, por mais agitada e tecnicamente boa, com um show impecável, tocar para uma maioria absoluta de um público que não é o seu e ainda sob um sol que derretia o Ice Stage e todos os presentes, com direito até a comentário do vocalista Daniel sobre tamanho calor, não foi mesmo das missões mais fáceis da vida do Bury Tomorrow.
THE WINERY DOGS
Por Antônio Carlos Monteiro
Se você olhar friamente, a presença de uma banda puramente setentista num festival que tem como foco principal o heavy metal poderia deixar o power trio americano mais deslocado do que Pilatos no Credo. Poderia se essa banda não se chamasse The Winery Dogs. Acontece que músicos do gabarito de Ritchie Kotzen (guitarra e vocal), Billy Sheehan (baixo e vocal) e Mike Portnoy (bateria e vocal) têm talento e experiência suficientes para se apresentar em qualquer ambiente. E não foi diferente no Summer Breeze, mesmo escalado entre shows de Testament e Kreator, que aconteceram no palco ao lado, respectivamente antes e depois da apresentação do trio.
Com três discos lançados, a banda começou com Gaslight e Xanadu, ambas do mais recente e menos inspirado III (2023). E foi justamente nelas que apareceu o único problema de som do show: o bumbo de Portnoy estava excessivamente alto, cobrindo parte dos outros instrumentos e gerando certo desconforto por conta de sua frequência – especialmente na primeira música, em que ele usa e abusa do pedal duplo.
Corrigido o problema, o que se viu foi uma aula não apenas de técnica, mas de como se levar um show de rock. Tudo bem que Kotzen mostra-se o tempo todo bastante compenetrado (algo mais que compreensível, afinal ele responde por voz e guitarra!), mas Sheehan e Portnoy estavam completamente relaxados em cena, tocando com a eficiência absurda que possuem e ao mesmo tempo rindo e interagindo entre si e com a plateia.
O Winery Dogs é uma banda de monstros nos seus respectivos instrumentos, mas é impossível deixar de se impressionar com a técnica de Billy Sheehan. O baixista usa todos os recursos possíveis e imagináveis (harmônicos, tappings, acordes) sempre em favor da música e conseguindo um resultado que impressiona até quem está acostumado a acompanhar o trabalho de grandes músicos. Em determinado momento, quando fez um curto solo, Sheehan chegou a ser aplaudido no meio da execução.
Mike Portnoy, por sua vez, é um poço infinito de criatividade e não à toa se tornou influência para toda uma geração de bateristas ao redor do mundo – e no caso do Winery Dogs ainda contribui com backing vocals eficientíssimos.
Já Kotzen é cérebro e alma da banda. Além de mostrar grandes atributos enquanto vocalista (alcançou agudos impressionantes em alguns momentos), toca com muito feeling e técnica refinada. O fato de usar apenas os dedos proporciona a ele toda uma série de recursos em que a palheta acaba funcionando como limitadora, além de escolher timbres que beiram a perfeição.
Com esses atributos, mais a competência individual de cada músico e, principalmente, um repertório agradabilíssimo, não demorou para a galera ser conquistada pela banda e até alguns que esperavam por Mille Petrozza & Cia. foram vistos aplaudindo o Winery Dogs com entusiasmo. Nada mais justo.
AVANTASIA
Por Daniel Dutra
Impressionante. Talvez seja esta a melhor maneira de resumir a força do Avantasia no Brasil, e os momentos que antecederam a apresentação do mais que bem-sucedido projeto de Tobias Sammet foram sintomáticos. Situando: havia uma pista VIP nos dois palcos principais (Hot Stage e Ice Stage) – e realmente VIP, por se tratar de um espaço muito menor do que o normal – em que o público que adquiriu o Summer Lounge Card, obviamente pagando algumas taxas Selic a mais, podia assistir aos shows. Pois bem, antes mesmo de o Kreator terminar sua apresentação no palco ao lado, o local já estava completamente tomado.
E estava tão abarrotado que várias pessoas sequer esperaram o show chegar a sua metade para conseguir respirar melhor num espaço mais aberto. Ainda assim, o local continuou uma catarse coletiva do início ao fim da apresentação de Sammet e companhia, formada por Sascha Paeth e Oliver Hartmann (guitarras), Michael “Miro” Rodenberg (teclados), André Neygenfind (baixo) e Felix Bohnke (bateria), além das backing vocals Chiara Tricarico e Adrienne Cowan e dos vocalistas convidados da vez: Ralf Scheepers (Primal Fear), Bob Catley (Magnum), Ronnie Atkins (Pretty Maids), Herbie Langhans (Firewind) e Eric Martin (Mr. Big) – este ainda deve ter escutado do fiscal da alfândega um “você de novo por aqui?”.
E quando eu falo em catarse do início ao fim, tenha em mente que de “Twisted Mind”, que abriu o show apenas com Sammet nos vocais, ao combo “Sign of the Cross/The Seven Angels”, com a turma inteira no palco para fechar a noite de gala dos fãs de power metal melódico, o entusiasmo – leia-se público cantando e/ou pulando como se não houvesse amanhã – foi sempre acima da média. Scheepers foi o primeiro a dar as caras, dividindo os vocais em “Reach Out for the Light” e “The Wicked Rule the Night”, esta a única oriunda do novo álbum, “A Paranormal Evening With the Moonflower Society” (2022), e cuja versão em estúdio já conta com o frontman do Primal Fear.
Não à toa, Sammet jogou com o regulamento embaixo do braço ao privilegiar dois dos álbuns mais aclamados pelos fãs do Avantasia: “The Metal Opera” (2001), o pontapé inicial do que um dia foi apenas um projeto daquele jovem vocalista do Edguy, e “The Scarecrow” (2008). De fato, os dois trabalhos renderam alguns dos melhores momentos da noite, como “Farewell”, com a belíssima participação de Chiara – que já havia brilhado ao lado de Catley em “The Story Ain’t Over” – e, claro, a sempre aguardadíssima “Sign of the Cross”, emendada em “The Seven Angels”, do segundo disco, “The Metal Opera Part II” (2002).
“The Scarecrow”, por sua vez, ganhou um ar ainda mais emocionante pela participação do sempre ótimo Atkins, que vem lutando desde 2021 contra um câncer estágio 4 no pulmão – a doença foi diagnosticada em 2019, e o vocalista do Pretty Maids se livrou dela no ano seguinte, depois de 33 sessões de radioterapia e quatro de quimioterapia, mas o câncer infelizmente voltou.
Com Sammet fora do palco – “Eu preciso sair para dar uma mijada” –, “Shelter from the Rain” foi muito bem representada pelas vozes de Scheepers, Langhans e Catley, sendo que o veterano vocalista do Magnum ganhou uma justa reverência do anfitrião: “Sei que muitos garotos estão aqui para ver o Parkway Drive, e não tem nada de errado nisso, mas quero dizer que se não haveria Avantasia se não existisse o Magnum”. Que isso tenha servido para que muitos fãs de power metal melódico, especialmente os mais jovens, tenham chegado em casa e ido conferir a banda britânica em plataformas de streaming (porque é assim que funciona hoje em dia…).
Claro, não foram apenas esses os destaques, até porque o Avantasia mostra que se sai muito bem – até melhor, eu diria – quando abandona os clichês do gênero, aqueles carregados por dois bumbos e que deixam as bandas todas soando de maneira genérica. A primeira prova disso foi a excelente “Book of Shallows”, na qual Atkins dividiu o brilho com Adrienne, responsável com louvor pelas partes cantadas originalmente pelo líder do Kreator, Mille Petrozza.
E teve, também, “a boca do Mr. Big”, como Sammet anunciou Martin. E o sempre simpático – e boa-praça, realmente – vocalista engrandeceu “Dying for an Angel”, cuja versão de estúdio tem Klaus Meine (Scorpions), ao emprestar seu carisma e, ainda melhor, e aquela voz hard rock embebida pelo blues rock. E isso valeu até para o ‘theme song’ “Avantasia”, outra que arrepiou os cabelos dos braços (ou da nuca) dos fãs.
No fim das contas, Sammet estava certo. Havia garotos para assistir ao show do Parkway Drive, mas havia muito, mas muito mais gente para prestigiar o Avantasia. Enquanto o Hot Stage não ficou nem com metade do público que estava no local, uma massa de camisas pretas atravessa a passarela para o outro lado do Memorial da América Latina, onde o Stratovarius estava prestes a começar seu set no Sun Stage. Tipo uma sobremesa power metal melódico depois do prato principal.
SUN STAGE
VELVET CHAINS
Por Heverton Souza
A banda Velvet Chains ganhou a missão de abrir o Sun Stage às 11h do domingo com seu som combinando grunge e hard rock, lembrando em muito um Nickelback antes de se entregar de vez ao pop.
Com uma formação desde brasileiro, chileno a americano, o quinteto formado em Las Vegas, no ano de 2018, mostrou muita simpatia e muita energia em seu show, apresentando as músicas de seu álbum de estreia “Icarus” (2021) e do EP “Morbid Dreams”, lançado em 2022.
Mas o Velvet Chains não contava com um gigante, ou melhor, com o maior obstáculo para dominar o público naquele momento: o sol! As temperaturas passavam dos 20 °C logo cedo, mas a sensação térmica chegava a até os 28 °C e muitos foram buscar sombras nos espaço do Memorial da América Latina, deixando parte do público distante do show.
Ainda assim, a banda cumpriu seu papel não apenas divulgando seu trabalho, como agraciando os presentes com uma interessante versão de “Suspicious Mind”, clássico de Elvis Presley e um cover de “Even Flow”, dos grunges do Pearl Jam. Mas infelizmente o Sun Stage levou muito a sério seu título naquela manhã.
PROJECT46
Por Heverton Souza
Em se tratando de metal moderno e público rejuvenescido, chamar o Project46 para a edição brasileira de um festival como o Summer Breeze, que tem uma proposta que vai do clássico ao atual, é jogo ganho. Já é sabido como o show do “metal descarrego” da banda é intenso para seus fãs e não foi diferente nesse início de tarde de domingo no Sun Stage.
O quinteto formado por Caio MacBeserra (vocal), Vinicius Castellari e Jean Patton (guitarras), Baffo (baixo) e Betto Cardoso (bateria), colocou toda sua experiência de 15 anos de estrada para mostrar que quando tem seu público presente, eles mandam e desmandam na p*rra toda!
O set começou indo na história da banda, voltando em seu primeiro full length “Doa a Quem Doer” com as faixas “Atrás das Linhas Inimigas”, “Violência Gratuita” e “Dor”. Aqui, com os comandos de Caio, as rodas já estavam feitas. Aliás, é impressionante como o vocalista conduz “o caos”, seja convocando rodas ou a famosa “wall of death” outras interações com o público.
Mas nem precisava de tanto, afinal, impossível o fã resistir a cair numa roda de moshpit ao ouvir pedradas como “Corre”. Mas não é apenas o vocalista que se destaca, seja pela performance ou por seus vocais que viajam facilmente entre os guturais e rasgados.
Músicas como “Pode Pa” mostraram toda a técnica da banda, com destaque para o feeling em solo dos guitarristas Vinicius e Jean e à toda execução de arranjos do ninja drummer Betto Cardoso. E o que teve de gente batendo cabeça no riff final dessa música seria de causar inveja à muitas bandas gringas se estivessem ali assistindo.
O mesmo pode ser dito de “Foda-se (Se Depender de Nós)” que tirava o refrão da garganta dos fãs. Talvez o momento menos interessante para os não fãs, que estava ali também curtindo o show, tenha sido o lado “bom moço” exposto em “Rédeas”, uma das músicas do álbum “Tr3s”. Mas não teve como não notar vários fãs catando o refrão melodioso sem pudor algum.
Vale citar ainda que Caio deixou claro que a apresentação estava sendo filmada para um futuro registro. Vamos aguardar! Metalcore, deathcore, defina como quiser, pois o que vale é que a sessão de descarrego do show do Project46 é garantida.
FINNTROLL
Por Antônio Carlos Monteiro
Os finlandeses do Finntroll podem ser considerados únicos por vários aspectos. E o principal talvez seja o fato de, a despeito da origem da banda, cantarem em sueco, ideia trazida pelo antigo vocalista, Jan “Katla” Jämsen, que é de uma região da Finlândia em que se fala esse idioma.
Só que, independente disso, o que conta é que o black/death com muitas melodias folk que move o som do grupo tem seus seguidores por aqui, que foram conferir a apresentação do Finntroll debaixo de um sol inclemente – tanto que não demorou para boa parte do público procurar algumas das poucas sombras que havia no apropriadamente chamado Sun Stage para se abrigar.
Veterana, a banda sabe exatamente o que fazer para agradar o público. As bases orquestrais se fundem com eficiência ao instrumental pesado, criando melodias, acredite, muito dançantes – tanto que tinha um punhado de gente se esbaldando na plateia.
Com corpse paint e usando orelhas de elfos, os músicos entregaram um show de extrema competência, especialmente os guitarristas Samuli “Skrymer” Ponsimaa e Mikael “Routa” Karlbom – este último, além da cara de mau, ostentava um singelo coelhinho de pelúcia em cima do amplificador.
Mas o destaque mesmo vai para o vocalista Mathias “Vreth” Lillmans. Além da ótima presença de palco e de manter a plateia na mão durante todo o show, mostrou imensa versatilidade vocal: ia do drive ao gutural extremo, passando pela voz natural com grande eficiência, provando ser competente em todas as formas de cantar.
Pena que no meio do show começava a apresentação do Testament em um dos palcos principais, o que fez com que boa parte da galera debandasse para lá. Mas a banda pouco se importou e manteve o mesmo pique até o final. Ótimo show de uma ótima banda.
Beast in Black
Por Leandro Nogueira Coppi
Algo muito legal de se notar na edição de estreia do Summer Breeze foi que, ao menos no que diz respeito a shows, o radicalismo ficou no passado. Foi-se o tempo em que víamos, por exemplo, babacas praticamente expulsando um Skid Row da vida do palco do Monsters of Rock (edição de 1996), ou literalmente dando as costas para um Tristania em festival que no mais só teve banda mais agressiva. Tanto é que dessa vez o próprio Skid Row foi bastante respeitado e aplaudido pelo público. O Beast in Black, então, foi além, pôs muita gente na pista do Sun Stage para dançar, inclusive pessoas com camisetas de metal extremo.
Apesar da pegada e do visual serem heavy metal, muitas músicas tocadas pela banda finlandesa formada pelo ex-guitarrista do Battle Beast, Anton Kabanen, ofereciam referências diretas de AOR, hard rock e certo viés retro-wave, soando dançantes e com refrãos chiclete. Até mesmo os músicos do Finntroll que haviam acabado de tocar no mesmo palco, estavam no meio do público curtindo o show dos conterrâneos.
Atualmente, o grupo divulga o seu terceiro álbum de estúdio, “Dark Connection”, que, por acaso, foi lançado em 29 de outubro de 2021, dia do aniversário desse que vos escreve. Com uma temática inspirada no mangá Berserk, escrita e ilustrada pelo já falecido Kentaro Miura, além de jogos de RPG, o Beast in Black se mostrou uma banda muito mais interessante ao vivo do que em estúdio, onde soa exageradamente polida e não tão dançante.
Confesso que, por isso, seus discos me passaram batido de audições mais apuradas. Já no show, não tinha como não abrir um sorriso vendo a banda agitar a pista com músicas como “Sweet True Lies”, “Moonlight Rendezvous”, “Hardcore” e, principalmente, as ótimas “From Hell with Love”, “Blind and Frozen” e “One Night in Tokyo”, curiosamente, uma de cada disco do grupo – “Berserker” (2017), “From Hell with Love” (2019) e o mencionado “Dark Connection”.
Com muita simpatia, Yannis Papadopoulos, vocalista grego que lembra muito o saudoso ator e humorista Paulo Gustavo, e que trajava um visual estilo Pinhead, personagem principal da franquia de terror “Hellraiser”, roubou a cena. Em seu rosto, era nítida a felicidade com a receptividade do acalorado público brazuca que se divertiu do começo ao fim com o show do Beast in Black, grupo completado por Kasperi Heikkinen (guitarra), Mate Molnar (baixo) e Atte Palokangas – esse, um trator na bateria. Conversando com várias pessoas, era curioso que muitas delas nem sabiam que o Beast in Black já havia passado pelo Brasil em 2022 abrindo para o Nightwish.
Bem, essa é uma das vantagens de um festival feito o Summer Breeze, conhecer o show de bandas que certamente passariam batidas de nossos interesses, mas que a partir de então despertam a vontade de vê-las numa próxima oportunidade. Isso vale para você que não esteve no festival mas que ficou curioso (a) lendo esse ‘review’, e que, acima de tudo, curte se divertir e é pré-disposto (a) a ampliar seus conhecimentos musicais. Se se identificou, anote o Beast in Black em sua agenda e não perca quando o grupo retornar ao Brasil.
Napalm Death
Por Heverton Souza
Muitos entre o público questionavam como o maior nome do grindcore mundial e um dos nomes clássicos de todo o festival, tocaria no Sun Stage, que se caracteriza como menor, mais intimista, e ficava distante dos outros palcos. Mas fato é que o show do Napalm Death pede por uma coisa mais underground até para o seu caos sonoro atingir a todos presentes na mesma medida. E convenhamos, para um repórter, uma apresentação dos caras é trabalho zero, pois o citado caos vai de ponta a ponta.
Barney Greenway (Foto: Arthur Waismann)Pouco antes das 18h30, horário previsto para o show, era possível ver os músicos sobre o palco fazendo os últimos ajustes, sem qualquer estrelismo. Mas quando começou, uma estranheza de cara: a ausência da cabeleira de samambaia do vocalista Shane Embury.
Ao microfone, Barney não deu muitos esclarecimentos, apenas citou que o músico não passou bem e não pode vir para o Brasil. Em seu lugar, o roadie da banda assumiu o baixo e, claro, não é o carisma do Shane, mas cumpriu a missão. E com John Cooke e Danny Herrera completando o time, tivemos um show de 20 musicas em uma hora de apresentação.
E mesmo com a banda ainda divulgando “Throes of Joy in the Jaws of Defeatism”, um de seus melhores discos, tivemos uma verdadeiro resumo da história musical de 36 anos do Napalm Death, contados desde o full length “Scum”, de 1987.
Dentre os destaques, “Backlash Just Because”, single do já citado “Throes of Joy…”, “Contagion”, obviamente o clássico “Scum”, “Suffer the Children”, com direito a um discurso ácido de Barney contra as religiões, os divertidos “sustos” musicais de segundos “You Suffer” e “Dead”, com Greenway inclusive zoando que a segunda é muito diferente da primeira, “Nazi Punks Fuck Off”, o cover do Dead Kennedys que já é praticamente uma música do Napalm, e Siege of Power que encerrou o show.
Duas observações: diferente do que vemos no metal, as rodas do Grindcore do Napalm Death eram constantes e sem nenhum pedido/convocação pra elas. Todas aconteciam naturalmente como se fosse a coreografia obrigatória do show. E claro, a performance de Mark “Barney” Greenway, que mesmo com seus 53 anos, continua agitando como se tivesse formigas pelo corpo.
Stratovarius
Por Daniel Dutra
Aconteceu no sábado, aconteceu no domingo. Apesar da saudável diversidade de estilos, uma prática comum nos festivais de verão na Europa, a verdade é que o público brasileiro, em sua maioria, deixou clara a sua preferência por um DNA não apenas 100% heavy metal, independentemente do subgênero, e, mais ainda, uma aptidão pelo mais clássico, digamos assim, em detrimento do mais moderno e/ou alternativo, digamos assim, também.
No primeiro dia, na estreia da edição brasileira do Summer Breeze, o Accept tocou para um grande público no Sun Stage, palco secundário, enquanto o Stone Temple Pilots tinha uma recepção basicamente fria no Ice Stage, um dos dois palcos principais. No segundo, o Stratovarius quebrou o recorde de público do Sun Stage – sério, não cabia mais uma mosca sequer no local – enquanto o Parkway Drive estava no Hot Stage, o segundo dos palcos principais, diante de um público inversamente proporcional.
A solução para o “problema” não é tão simples, com detalhes que fogem ao conhecimento do público, e como Timo Kotipelto (vocal), Matias Kupiainen (guitarra), Jens Johansson (teclados), Lauri Porra (baixo) e Rolf Pilve (bateria) não tinham nada a ver com isso, o Stratovarius cumpriu muito bem o seu papel, apesar de uma plateia visivelmente cansada da maratona de shows – leve em consideração que a esmagadora maioria do público presente foi aos dois dias do festival.
Com um som muito bem equalizado, só que mais baixo do que deveria, o quinteto acabou pagando o preço por não abrir mão, numa aposta correta, do material pós-Timo Tolkki: sete das 14 músicas do set foram de 2009, sendo que quatro saíram do álbum mais recente, o agradavelmente surpreendente “Survive” (2022). Com os pés doendo, a voz já rouca e os braços pesados, os fãs queriam mesmo era ouvir as canções antigas.
Uma pena, porque as recém-saídas do forno “Survive”, “Broken”, “Frozen in Time” e “World on Fire” – especialmente as duas primeiras – mereciam uma saudação mais calorosa do público, uma vez que mostram tanto a banda finlandesa saindo da zona de conforto quanto ratificam a melhor formação que o Stratovarius já teve, e que está junta desde 2012, quando Pilve substituiu Jörg Michael. E vou além: o medley instrumental com “Stratosphere”, de “Episode” (1996), e “Holy Light”, de “Visions” (1997), jogou mais uma vez na cara dos fãs xiitas como Tolkki é tecnicamente superestimado.
Sim, o mérito é sempre maior para o criador, mas já em “Eagleheart”, que acendeu os ânimos da plateia, Kupiainen mostrou sua capacidade de melhorar o que hoje é clássico. Pode até tocar o original nota por nota, mas tem timbre e pegada muito melhores. Isso valeu para os grandes destaques da noite, “Speed of Light”, “Paradise”, “Father Time” e “Black Diamond”, enquanto “Forever” e “Hunting High and Low” tiveram um único dono: Kotipelto, um frontman cada vez melhor e cuja voz envelheceu realmente bem, ainda mais se tratando de um gênero em que tons altos são uma constante.
Resumo da ópera, o Stratovarius fez um show correto, com um set muito bem equilibrado – especialmente para quem é fã de fato da banda, não apenas de determinada fase – e executado . Porém, ficou a sensação de que a energia do público para o palco teria sido melhor caso a banda estivesse num local fechado ou mesmo tivesse tocado mais cedo num dos palcos principais. Ainda assim, que tenha sido uma amostra de que o caminho seguido em “Survive” seja trilhado por mais tempo.
WAVES STAGE
BITTENCOURT PROJECT
Por Antônio Carlos Monteiro
Rafael Bittencourt vem vivenciando um momento interessante em sua carreira. Assumiu um merecido e autêntico protagonismo no Angra, tornou-se youtuber de sucesso no canal Amplifica que, por sinal, estava com uma área no evento. Nesse contexto todo, nada mais natural que voltasse a atuar com seu Bittencourt Project, trabalho que funde rock, música regional, progressivo, erudito e o que mais lhe passar pela cabeça. Pode parecer uma salada de difícil digestão, mas não é.
O talento de Rafael como compositor e a banda competentíssima que montou provaram isso no Waves Stage. O repertório foi baseado no único álbum de estúdio da banda até aqui, Brainworms I (2008) e Rafael (guitarra, violão e vocal), Amon Lima (violino), Fernando Nunes (baixo), Marcell Cardoso (bateria) e Davi Jardim (teclados) esbanjaram talento em cena.
Apenas o percussionista Wellington Sancho ficou devendo porque, além de seus instrumentos desaparecerem sob a massa sonora promovida pelo restante do grupo, ele, empolgadíssimo, se afastava do microfone e perambulava pelo palco, interagia com os outros músicos e instigava a plateia. Um ótimo showman, pena que colocou sua performance musical em segundo plano. Por outro lado, muitos podem torcer o nariz para Amon Lima pelo trabalho com a Família Lima, mas é inegável atestar o músico fantástico que é.
Um irritante ruído que acompanhou a segunda música, Nightfly, quase em sua totalidade foi um dos dois problemas enfrentados pela banda. O outro, no microfone de Rafael, acabou gerando um improviso rápido e muito interessante entre ele, Amon e Fernando Nunes.
No mais, foi uma apresentação que valorizou principalmente o Rafael Bittencourt vocalista, função para a qual tem talento de sobra e vem mostrando isso cada vez mais no próprio Angra. Mas o Rafael “heavy metal” estava lá, é claro, como ficava evidente em cada solo de guitarra.
O desfecho foi sensacional com War Pigs da Porteira, que nada mais é que War Pigs, do Black Sabbath, com a letra de Menino da Porteira – e é impressionante como a métrica cabe certinho! Além de ser bastante interessante conferir essa outra faceta de Rafael, foi um show extremamente agradável, daqueles que você curte e nem sente o tempo passar.
VIXEN
Por Ricardo Batalha
Para conferir a primeira aparição da banda americana de hard rock Vixen no Brasil, os fãs tiveram que deixar de lado shows de Bury Tomorrow, Finntroll e Testament, este último mais devido ao atraso para o começo da apresentação no Waves Stage. Lorraine Lewis (vocal), Britt Lightning (guitarra), Julia Lage (baixo) e Roxy Petrucci (bateria), além do tecladista Raymond Whitlock, estavam passando o som e fazendo os ajustes no palco já com a presença do público. Muitos, por sinal, fanáticos. Das meninas que prestam tributo ao Vixen a fãs de hard 80s, todos estavam aguardando este momento há tempos. Porém, precisaram de muita paciência, já que o soundcheck demorou um pouco.
A brasileira Julia Lage, baixista e esposa de Richie Kotzen, que está na banda desde o ano passado, até falou em português com o público e brincou com Lorraine Lewis, quando a ex-vocalista do Femme Fatale arriscou algumas palavras. “Aprendi bem?”, disse ao olhar para Julia. Com o som “ajustado”, elas deixaram o palco e então começou “Yankee Rose” (David Lee Roth) nos PAs. Era a deixa para a entrada oficial da banda, que começou o show com “Rev It Up”, faixa-título do segundo álbum, de 1990.
Lorraine Lewis estava usando uma espécie de casaco com a bandeira do Brasil e dava para ver a felicidade de todas no palco. O som, no entanto, ainda estava sendo ajustado. Como este que vos escreve já tinha visto a Vixen ao vivo no Monsters of Rock Cruise de 2020, sabia que o set teria a presença de músicas do Femme Fatale e então, logo em seguida, elas mandaram “Waiting for the Big One”.
“How Much Love”, outra de “Rev It Up”, também agradou e foi seguida da acelerada “Cruisin'”. É interessante ver a postura de palco tipicamente rocker e a competência técnica. Não há samplers, efeitos e inteligência artificial por trás, tudo que se ouve está sendo executado, inclusive os muito bem colocados backing vocals. O hit “Cryin'”, faixa do debut “Vixen” (1988) e composta por Gregg Tripp e pelo tecladista Jeff Paris, fez os fãs voltarem aos bons tempos da MTV, pois o clipe passava com frequência.
Com Lorraine Lewis jogando seu microfone de uma mão para a outra e o jeitão Tommy Lee de Roxy Petrucci na batera, além de Britt Lightning detonando em riffs e solos, e Julia Lage classuda no baixo e mandando bem nos vocais, o repertório seguiu com um divertido medley com “Runnin’ with the Devil” (Van Halen), “I Want You to Rock Me” (Vixen), “What You’re Doing” (Beatles), “War Pigs” (Black Sabbath) e “Still of the Night” (Whitesnake). Depois foi a vez de “Love Made Me”, do debut, e a acelerada “Streets in Paradise”, de “Rev It Up”.
Voltando ao debut veio “Hell Raisers”, seguida por outros covers, começando por “You Oughta Know By Now”, de Ray Kennedy e gravada pela Vixen em “Live Fire” (2018); “Falling in and Out of Love”, outro hit do Femme Fatale; e “Ain’t Talkin’ ‘bout Love”, do Van Halen. Deu para notar que Britt Lightning realmente curte o trabalho do saudoso Eddie Van Halen.
Todo mundo já estava mais que satisfeito e realizado, mas faltava alguma coisa. Claro, “Edge of a Broken Heart” veio para colocar números finais no show no Auditório Simón Bolívar. Contentes e atenciosas, Lorraine, Britt, Julia e Roxy atenderam fãs para fotos e autógrafos. Porém, elas ainda tinham uma missão extra muito importante no mesmo dia, pois a Vixen ainda faria a “After Party” do festival, tocando na Audio. Muitos que não foram ao Summer Breeze compareceram. Mas, de diferente, só o som cristalino em toda a apresentação e o fato delas terem incluído “Love is A Killer” no repertório noturno, com Julia no vocal principal das primeiras estrofes.
“Valeu demais, foi muito massa! Já queremos voltar”, disse a baixista à ROADIE CREW, certa de que a passagem por aqui foi um sucesso. “Demorou demais pra elas irem (para o Brasil), mas agora espero ter desencantado”, brincou.
SIMONE SIMONS
Por Mayara Puertas (Torture Squad), especial para a ROADIE CREW
“Foi um prazer imenso estar ao lado da Simone Simons no Summer Breeze. Vínhamos conversando há alguns dias, alinhando os detalhes da palestra. Eu estava muito nervosa, mas Simone foi simpática e todo o tempo me encorajava. Foi a primeira experiência de ambas em um formato como este.
“Falamos sobre sua carreira de mais de 20 anos à frente do Epica, mas também sobre sua rotina como mãe e influencer de beleza. Trocamos experiências como vocalistas de metal e procuramos passar uma imagem positiva para novas cantoras que devem apoiar umas as outras.
“Ela foi muito receptiva com as perguntas do público. Notava-se a presença de pessoas de diversos países, e ela foi além da palestra, tirando fotos com os fãs e distribuindo autógrafos.”
ELECTRIC GYPSY
Por Antônio Carlos Monteiro
O concurso New Blood, que selecionou uma banda para se apresentar no Summer Breeze, mobilizou centenas de grupos de todo o país – e como integrante do júri posso garantir que a esmagadora maioria era da mais alta qualidade. A escolha, que após uma pré-seleção do júri foi decidida pelo voto popular, recaiu sobre os mineiros do Electric Gypsy – opção até certo ponto surpreendente por se tratar de uma banda que faz um som calcado no hard rock dos anos 70 e 80.
O quarteto já tem três discos lançados (dois EPs e um álbum completo) e recentemente correu o país abrindo os shows da turnê que reuniu Paul Di’Anno e Noturnall. Com tudo isso, era de se esperar que uma considerável galera fosse acompanhar a apresentação de Guzz Collins (vocais), Nolas (guitarra), Pete (baixo) e Robert Zimmerman (bateria e que também faz uns backing vocals de qualidade).
Não foi o que se viu. Um público bastante reduzido (mas animadíssimo, é bom salientar) acompanhou a apresentação do quarteto. Perdeu quem não foi. Pra começar, o grupo tocou como se o lugar estivesse abarrotado, não economizando em performance e comunicação com a galera, o que prova que profissionalismo não falta aos músicos.
Com uma ótima qualidade de som desde o início, o grupo desfilou temas de seus três trabalhos, com destaque para todas as faixas de seu último e excelente EP, Stars. O Electric Gypsy é uma banda coesa e muito bem ensaiada, com uma cozinha firme e cheia de groove, um guitarrista talentoso e que conhece todos os truques do hard rock e um vocalista carismático, que tem ótimo alcance, afinação irrepreensível e boa comunicação com a plateia.
Lá pelas tantas, a banda tocou o cover de Hot for Teacher, do Van Halen, numa versão muito competente, mas que bota a gente pra pensar: para que tocar um cover se podiam apresentar outra música própria? Enfim, são opções pessoais e intransferíveis. GuGuzz, Nolas, Pete e Robert saíram de cena debaixo de merecidos aplausos – que, numa próxima oportunidade, tomara que venham de muitas mãos mais.
SINISTRA
Por Antônio Carlos Monteiro
A história desta superbanda todo mundo conhece: Nando Fernandes (vocal) e Edu Ardanuy (guitarra) começaram a pensar em um projeto conjunto há alguns anos e em 2018 foi anunciada a criação da Sinistra – completa com Luis Mariutti (baixo) e Rafael Rosa (bateria). Alguns problemas, pandemia à frente, acabaram adiando o lançamento oficial do quarteto, que só veio a ocorrer no final do ano passado quando saiu, com direito a coquetel e pocket show, o excelente álbum que leva o nome da banda.
De lá para cá, a Sinistra vem conseguindo mostrar em ótimos shows que é possível fazer heavy metal com letras em português, como aconteceu na noite do último dia do Summer Breeze. A banda foi escalada para o Waves Stage, local de acesso permitido apenas a quem havia adquirido um determinado tipo de ingresso, e rivalizou em termos de horário com Parkway Drive e Stratovarius, o que talvez explique o público razoável mas muito menor do que merecia a banda.
Após uma introdução em áudio e vídeo, a banda começou a desfilar o repertório, em sua totalidade composto por músicas de seu único disco. Nando, como sempre, explicou o conteúdo de cada uma das letras e assim foram apresentados temas como Mente Vazia, a ótima Viver, Santa Inquisição e O Amanhã, entre outros. No meio da apresentação, Nando comentou que estava com dengue, o que transformou sua performance em algo quase heroico.
No final, uma “invasão” de palco: Ivan Busic (Dr. Sin) cumprimentou os músicos, pediu o microfone e disse que “esse foi o melhor show do Summer Breeze!” Bem, se não foi, ficou entre os melhores. E comprovou o que já se sabia: a Sinistra é uma banda para ser acompanhada de perto e com muita atenção.
EVERGREY
Por Daniel Dutra
Coube ao Evergrey oferecer a saideira da primeira edição brasileira do Summer Breeze, e o que a banda sueca fez foi dar uma saborosa palinha do que deve fazer em novembro próximo, quando retorna ao país para uma turnê – informação do próprio Tom S. Englund durante a apresentação no Waves Stage, ou seja, no Auditório Simón Bolívar, cujo acesso, lembremos mais uma vez, era restrito àqueles que gastaram algumas centenas de R$ a mais, em troca de certas benesses, e por isso fizeram a alegria da empresa administradora do cartão de crédito.
Enfim, Henrik Danhage (guitarra), Johan Niemann (baixo), Rikard Zander (teclados) e Jonas Ekdahl (bateria) e o vocalista, guitarrista e líder Englund mostraram por que o Evergrey tem o mérito de, quase 30 anos depois de vir ao mundo, ainda se encontra em ascensão e vivendo seu melhor momento – uma fase que coincide com a volta de Ekdahl à banda, em 2014, e recentemente culminou no excelente “A Heartless Portrait (The Orphean Testament)” (2022).
E o novo álbum apareceu no repertório com três de suas faixas, “Call Out the Dark”, “Midwinter Calls” e “Save Us”, todas impecáveis ao vivo, mas com destaque absoluto para a grandiosa “Save Us”, que encerrou a apresentação colocando todo mundo para cantar o refrão – havia um público muito bom no local, sendo que boa parte ignorou as confortáveis cadeiras do teatro para ficar em pé na frente do palco. E aqueles que ficaram sentados ainda foram alvos do bom humor de Englund, que pediu que todos acordassem.
Bom humor, diga-se, que sobrou também para quem estava grudando no palco – “Vejam só esse cara! Ele mal consegue ficar em pé!”, disse Englund, referindo-se não necessariamente ao cansaço do sujeito, e sim ao seu estado alcoólico – e até para a própria banda. “Voltaremos em novembro para tocar músicas bem melhores”, disse ele, ao anunciar também que o Evergrey já está trabalhando novo disco. “Acho que vocês vão gostar mais. Ou não… Bom, estou cansado e falando coisas sem sentido.”
Humildade ou não, o fato é que se quinteto continuar subindo a escada da excelência que vem construindo desde “Hymns for the Broken” (2014), já dá para apostar que vem aí um dos melhores trabalhos de 2023. Até lá, fica a lembrança de um show tecnicamente impecável – do som, provavelmente o melhor de todo o festival, à performance dos músicos, com Englund, que está cantado demais, e Danhage à frente – em que o presente se apresentou em condições de igualdade com o passado.
“A Touch of Blessing”, de “The Inner Circle” (2004), e “Recreation Day”, do homônimo álbum lançado em 2003, foram recebidas com enorme entusiasmos por fãs que sabem e, melhor, apreciam o fato de que o Evergrey é uma banda completamente renovada e ainda melhor desde “The Storm Within” (2016), especialmente. O setlist de 12 músicas teve nada menos que nove tiradas dos últimos quatro trabalhos.
“Distance” – que abriu a noite escancarando qual é a desse Evergrey atual – e “My Allied Ocean” representaram “The Storm Within” (2016), e “A Silent Arc” e a grudenta “Weightless”, “The Atlantic” (2019). Todas ótimas, mas ouvir “Eternal Nocturnal” e “Where August Mourn” só alimentou a vontade de um dia assistir a um ‘An Evening with Evergrey’, com a banda tocando “Escape of the Phoenix” (2021) e “A Heartless Portrait (The Orphean Testament)” na íntegra. Mas deixemos a utopia de lado enquanto esperamos por uma noite completa com os suecos em novembro.