Por Marcelo Gomes
Fotos: Leca Suzuki (Sonoridade Underground)
Depois de dois adiamentos – o primeiro por conta da pandemia em 2020 e o segundo devido a problemas de saúde do guitarrista Kurt Ballou no início de 2024 –, finalmente o Converge fez sua estreia no Brasil. Formada em 1990, em Salem, Massachusetts (7), a banda é conhecida por seu som agressivo, que mistura hardcore com metal. Os norte-americanos são considerados pioneiros no estilo e têm uma trajetória marcada por lançamentos icônicos e uma performance ao vivo intensa, o que atraiu uma multidão ansiosa para o Cine Joia.
Abrindo a noite, os brasileiros do Mee, conhecidos por sua mistura de rock experimental e elementos de hardcore, fizeram uma apresentação intensa, surpreendendo os fãs com sua sonoridade densa e performance enérgica. O show começou com Electric Blanket & Chicken, um exemplo perfeito da capacidade da banda de mesclar ritmos e experimentações sonoras, e seguiu com Bargain, que já colocou o público no clima pesado. Depression trouxe uma carga emocional profunda, enquanto faixas como Dobre e Pidgeon Standard demonstraram a habilidade da banda em criar atmosferas densas. Koro Syndrome e Day of Demolition mantiveram o clima introspectivo, fazendo com que o público se entregasse completamente à performance. O show chegou ao final com Weight e Saturated, que foram calorosamente recebidas pelo público que lotava a casa.
Enfim, era chegada a hora dos norte-americanos do Converge estrearem nos palcos brasileiros. Formado por Jacob Bannon (vocal), Kurt Ballou (guitarra), Nate Newton (baixo) e Ben Koller (bateria), o grupo iniciou com Eagles Become Vultures, do álbum You Fail Me, uma faixa rápida e agressiva que imediatamente fez o público explodir em um mosh violento. Antes de começar o show, tive a impressão de que tinham colocado seguranças na frente do palco. Não duraram nem dois minutos lá. As pessoas subiam no palco e se jogavam a todo momento, além das rodas brutais que se formavam no centro da pista. Essa música foi uma escolha perfeita para abrir a noite, estabelecendo o tom brutal que se desenrolaria ao longo da apresentação.
Em seguida, a banda emendou com Dark Horse e Under Duress, e o público foi à loucura. A intensidade dessas músicas, com riffs carregados de tensão e profundidade, aliados à bateria esmagadora de Ben Koller, soou como um chamado para mais stage diving e mosh. As pessoas respondiam de forma visceral, cantando junto com Jacob Bannon, gritando as letras como se fossem um manifesto de sobrevivência em meio à violência e ao caos do mundo moderno.
A performance continuou com a fúria inabalável de Heartless e Axe to Fall. A conexão da banda com o público estava fenomenal, com Jacob lançando olhares intensos e se movendo no palco como se estivesse absorvendo a energia quase sobrenatural emanada pelo público. Uma pequena trégua nas rodas em You Fail Me fez o público entrar em uma espécie de transe em uma das faixas mais dramáticas da noite. A letra cheia de angústia e a entrega vocal visceral de Bannon ganharam grande carga emocional. Os fãs pareciam entender cada palavra, cada nota, criando um momento de profunda imersão. O setlist seguiu com All We Love We Leave Behind, Predatory Glow e Hell to Pay, três faixas que fizeram muitos na plateia fecharem os olhos e balançarem a cabeça. Essas músicas, que misturam melodia com a agressividade característica da banda, trouxeram uma intensidade diferente — algo mais introspectivo, meio melancólico, mas ainda assim poderoso. Era visível que muitos estavam emocionalmente tocados, absorvendo as letras e as melodias com um olhar contemplativo, como se cada verso trouxesse à tona memórias e sentimentos pessoais.
Com Bitter and Then Some, Reap What You Sow e Cutter a banda voltou a mergulhar em um ritmo acelerado e implacável, levando o público ao delírio. Novamente, os fãs subiam no palco e, em diversos momentos, chegaram até mesmo a cantar junto com Jacob. O ambiente continuava caótico até Worms Will Feed/Rats Will Feast, que diminuiu um pouco o ritmo, dando um breve alívio para os fãs ensandecidos. Mas durou pouco; logo vieram I Can Tell You About Pain e Concubine para encerrar essa parte do show.
Sob pedidos de The Saddest Day o quarteto voltou ao palco do Cine Joia. Em um dos raros momentos de interação com o público, Kurt, que usava uma camiseta do Petbrick (projeto de Iggor Cavalera com Wayne Adams), aproveitou para comentar que demoraram muito para vir, mas que estavam muito felizes e que as pessoas no Brasil eram maravilhosas. Vale ressaltar que o baixista Nate Newton gravou o álbum Pandemonium (2014), do Cavalera Conspiracy, e o baterista Ben Koller participou da gravação do álbum Reluctant Hero (2020), do Killer Be Killed (projeto de Max Cavalera com Greg Puciato e Troy Sanders). Retomando o show, a clássica The Saddest Day encerrou a apresentação de forma apoteótica. Jê, vocalista do Mee, que estava na plateia, chegou a “tomar” o microfone de Jacob e cantar alguns versos antes de se jogar novamente no público. Foi uma despedida épica, e muitos ainda estavam em choque, assimilando o que acabaram de vivenciar.
A primeira visita do Converge a São Paulo foi um espetáculo de agressividade, técnica e emoção. Certamente, a espera valeu a pena. A banda mais parecia um rolo compressor que atropelou quem estava pela frente, entregando uma performance que ficará marcada na memória dos fãs. A conexão criada entre banda e público mostrou o porquê do status lendário que o Converge mantém ao longo dos anos.
Mee – setlist
Electric Blanket & Chicken
Bargain
Depression
Dobre
Pidgeon Standard
Koro Syndrome
Day of Demolition
Weight
Saturated
Converge – setlist
Eagles Become Vultures
Dark Horse
Under Duress
Heartless
Axe to Fall
You Fail Me
All We Love We Leave Behind
Predatory Glow
Hell to Pay
Bitter and Then Some
Reap What You Sow
Cutter Worms
Will Feed/Rats Will Feast
I Can Tell You About Pain
Concubine
The Saddest Day
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