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HARMONY FAULT

A banda gaúcha de Goregrind Harmony Fault lançou em 2011 o ‘debut’ “Rotting Flesh Good Meal”, mostrando que veio para fazer os ouvidos humanos estourarem. O baterista Calebe Luiz conta um pouco da trajetória do grupo e suas inspirações para composições tão mórbidas, que surpreendentemente não apresentam letras! Segure suas tripas e boa leitura…

Vocês são bem underground e, portanto, muitos ainda não devem conhecê-los. Por favor, conte um pouco sobre o Harmony Fault.
Calebe Luiz:
 O Harmony Fault é uma banda de Goregrind do Rio Grande do Sul e que neste ano completa uma década de existência e barulho dentro do cenário underground. Após várias mudanças de formação, nossa sonoridade sofreu algumas alterações ao longo dos anos (do Grindcore/Noise ao Goregrind), talvez pelas influências musicais e diversidade de perfis dos integrantes. Hoje o HxFx conta com Guilherme no baixo e vocal, Pulga na guitarra e eu na bateria e backing vocal. Por fim, nossas músicas se devotam ao universo dos filmes de horror, à literatura maldita e a retratar macabros e doentios atos do cotidiano humano. Não necessariamente nessa ordem e sem se levar muito a sério.

Mesmo “Rotting Flesh Good Meal” sendo o álbum de estreia, vocês começaram de maneira positiva e muito provavelmente a cobrança por qualidade será alta. Vocês temem alguma futura pressão por parte da gravadora e dos fãs em relação a isso?
Calebe:
 Muito obrigado pelas palavras. Estamos muito contentes com esse disco e com a boa recepção que ele está tendo. Analisando nossa discografia ao longo desses anos, vejo que lançamos alguns materiais com uma qualidade de gravação sofrível. Era outra época, outro contexto. Dessa vez nos esforçamos ao máximo para lançar um álbum definitivo. Procuramos fazer o melhor possível com os recursos disponíveis. Quanto à sua pergunta, se é que existirá uma pressão externa, não a tememos. Sempre vamos tocar a música que apreciamos e permanecer ativos no cenário underground.

O som da banda remete à essência do Goregrind, de bandas clássicas como Impetigo, Gut ou Lymphatic Phlegm. O que os fez escolher por esse resgate?
Calebe: 
Nós amamos o que fazemos e somos fãs do estilo e tudo o mais que o cerca. Como já disse, nossa sonoridade mudou desde 2002 e o Goregrind foi o (des)caminho natural. Inclusive esse ‘resgate’ que você mencionou ocorreu por influência das bandas citadas (e de várias outras), mas, principalmente, por honrar nossa proposta de tocar somente o que gostamos. Disso temos orgulho: de estarmos ficando velhos e ainda fazendo o barulho que tanto amamos.

Além das fontes de inspiração da banda, o quão essencial são o cinema e a literatura para as composições?
Calebe: 
De fato, a transgressão – nauseante, subversiva e perigosa – encontrada na literatura e no cinema é o motor da HxFx. A proposta é prestar uma homenagem ou relembrar de alguns escritores, filmes, diretores, atores etc. Enfim, acho que o cinema de horror, especificamente, tem muita conexão, não só com o Goregrind, mas com o Rock em si, tanto pela intensidade, quanto pelo conteúdo gráfico. As tramas envolvendo temas doentios, perturbadores e bizarros são abundantes, por exemplo, no cinema italiano e japonês. E isso é inspiração garantida para nós.

Por que a opção de colocar somente textos explicativos no encarte, ao invés das próprias letras? Não seria interessante dividir as ideias mórbidas da banda com seu público (risos)?
Calebe:
 As letras das músicas não constam no encarte pelo simples fato de não existirem. Sim, não temos letras. Por qual motivo as letras são obrigatórias na música? Será que esta é a única forma de comunicação com o ouvinte? Sendo bem sincero, de modo geral, fica meio difícil compreender uma letra em meio ao caos sonoro e ainda por cima, com um vocal oitavado. Às vezes, nem mesmo com o encarte na mão é possível acompanhar as vociferações. Assim, optamos por redigir uma história ou um comentário sobre cada música, para capturar sua essência ou o espírito da banda quando tocamos ao vivo.

Ainda em relação ao assunto, também chama a atenção o fato de vocês falarem de sua cultura local. É o caso das faixas “Tirível” e “Rua do Arvoredo (O Açougue Humano Canibal)”. Esse lado histórico da banda será sempre explorado pelo grupo ou foi apenas essa oportunidade?
Calebe: 
Cara, nada disso foi planejado, apenas surgiu naturalmente. Como apreciamos a ironia, o sarcasmo e o humor, fizemos a ‘Tirível’, que nada mais é do que o modo que algumas pessoas de origem alemã daqui do RS pronunciam a palavra terrível. Enfim, só tiramos um sarro. Já em relação à ‘Rua do Arvoredo…’, o caso é verídico e ocorreu em Porto Alegre pelos idos de 1864. Um açougueiro chamado José Ramos degolava as vítimas que eram atraídas por sua bela esposa. Ele as esquartejava e, com a carne, embutia linguiças. O irônico é que o produto foi bastante apreciado pela sociedade, em uma espécie de canibalismo inconsciente. Acho que temas locais serão abordados novamente, até porque já temos uma música nova chamada ‘Safadagem’.

O álbum foi lançado por três selos em parceria – Rotten Foetus, Cauterized Productions e Violent Records. Isso foi uma necessidade ou uma opção?
Calebe:
 Acho que um pouco dos dois, para ser sincero contigo. Posso enumerar alguns fatores, como a questão financeira (prensagem etc.), a facilitação da divulgação do disco e o fato de que os selos sempre acompanharam o trabalho da banda que, agora, com dez anos de estrada, está mais madura, com a formação estabilizada. Foi o momento certo para lançar este álbum.

Existem planos para algum videoclipe? Algo bem putridamente caprichado?
Calebe: 
Afirmativo. Existem algumas ideias para a música ‘Rua do Arvoredo (O Açougue Humano Canibal)’ e estamos buscando algum parceiro para registrar esse intento. Os crimes lá ocorridos são perturbadores e pode ter certeza de que vai jorrar litros e litros de sangue na tela. E talvez alguns aperitivos de carne humana…

O que falta para o Goregrind brasileiro ganhar seu merecido reconhecimento? Afinal, o país tem excelentes bandas de Death Metal, mas pouco se fala sobre grupos do estilo de vocês.
Calebe: 
Acho que dá para afirmar que o Goregrind brazuca já é reconhecido, porém, na maioria das vezes, pouco se fala do estilo e das bandas que o praticam. Qualidade e atitude não faltam. Vale relembrar de verdadeiras lendas nacionais do gênero, que influenciaram até mesmo bandas gringas: Rotting Flesh, Sarcastic e Vômito. Já na cena atual, dá para citar o Lymphatic Phlegm (que já dividiu um LP com o Last Days of Humanity) e o Flesh Grinder (que lançou um split-CD com o Squash Bowels). De modo geral, o Goregrind é um segmento bastante restrito e pequeno, se comparado ao Death Metal, por exemplo. E ele sempre será o primo feio, sujo, pobre, podre e maltrapilho.

Vocês conhecem outras bandas nacionais que também executam o Goregrind clássico?
Calebe: 
Conhecemos inúmeras bandas que praticam não só o Goregrind clássico, como todas as vertentes do estilo. E com o detalhe de não ficar devendo nada aos conjuntos gringos. Sempre existe a possibilidade de se esquecer de alguém, mas vamos à lista: Syphilitic Abortion, Carnivore Mind, M.D.K., Crunch Delights, Terrorgasmo, Flesh Grinder, Rancid Flesh, Pankreatite Necro Hemorragica, Scatologic Madness Possession, I Shit on Your Face, Lymphatic Phlegm etc.

Por favor, deixe seu recado final.
Calebe:
 Bueno, agradeço pela oportunidade. Obrigado pelo suporte. Estamos muito contentes com o lançamento do nosso disco e pela parceria com os selos envolvidos. Por vezes o underground é um local árido e inóspito, mas temos muito orgulho de fazer parte do cenário, seguindo na batalha e fazendo novos contatos e amizades, conhecendo novas bandas e tocando em todos os locais possíveis.

Acesse: www.myspace.com/harmonyfault

 

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