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NAPALM DEATH e CANNIBAL CORPSE – 15 de setembro de 2018, São Paulo/SP

Antes de começarmos a falar sobre música, gostaria de convidar o leitor para um pequeno exercício de imaginação. Um exercício simples, curto, e que se refere a uma situação que só poderia realmente ser vivida no campo da imaginação, já que é impossível de ser concretizado: imagine como seria uma partida de futebol americano reunindo a defesa do Chicago Bears de 1985 contra o ataque do Denver Broncos de 2013. Só em sonho, não é mesmo? A chance de ver em campo William “Refrigerator” Perry, Richard Dent, Dan Hampton e Mike Singletary, e, do outro lado, Demaryius Thomas, Wes Welker, Eric Decker, Julius Thomas e Peyton Manning. Sim, seria fantástico, mas infelizmente, os resultados dessa reunião seriam tão imprevisíveis quanto a situação em si é impossível.

 

Felizmente, nem todas as ‘reuniões’ de grandes mestres é impossível. Afinal de contas, justamente na metade do mês de setembro os paulistanos tiveram a chance de ver duas das maiores formações da música extrema mundial no mesmo palco, revezando seus turnos, como dois times de estrelas em uma espécie de ‘Super Bowl’ musical, um encontro dos campeões de cada divisão. De um lado, os campeões do grindcore, o NAPALM DEATH, sempre liderados pelo seu coordenador defensivo (chame de vocalista, se assim preferir) Barney “Buddy Ryan” Greenway. Do outro lado, os campeões do death metal, o CANNIBAL CORPSE, movendo as correntes com a força de seu ‘quarterback’ (não seria baixista?) Alex “Peyton Manning” Webster.

O palco escolhido para este espetáculo, o já tradicional Carioca Club, pode não ter o charme do Soldier Field (estádio dos Bears), e nem a imponência do Mile High (dos Broncos), mas especialmente nesta ocasião se mostrou tão barulhento quanto. A competição por lugares também parecia digna de uma partida concorrida: o clube estava abarrotado, quase sem lugar para se mover. Um grande público, sedento por música extrema, e que já mostrava sinais de estar disposto a se divertir mesmo antes do início das apresentações. O espetáculo desta noite seria memorável.

O NAPALM DEATH foi o primeiro a subir no palco. Com Barney Greenway (vocal), Shane Embury (baixo), Danny Herrera (bateria) e John Cooke (guitarra) dispostos em seus lugares, a lenda britânica começou sua furiosa apresentação com Multinational Corporations, uma das vinte e oito canções que apareceram em Scum, álbum que marcou a estreia fonográfica oficial do grupo de Birmingham. Com a porrada já comendo solta na plateia (sempre no bom sentido), Barney e Cia. continuaram sua explanação de extremidade com Instinct of Survival e On The Brink of Extinction (Time Waits For No Slave, 2009), a primeira representando o início da jornada grind da banda, a segunda o retorno para o seu som característico pós-2000.

Embora o clima para os fãs fosse de festa, o Napalm Death tinha pressa (sério isso? Novidade…), e uma nova leva de novos e velhos clássicos já estava pronta para ser destroçada no palco. Unchallenged Hate veio para aquecer os fanáticos pela ‘bagaceira’ das antigas (direto de From Enslavement to Obliteration, 1988) e trouxe consigo When All Is Said And Done (Smear Campain, 2006). Dentre os fãs, o resultado foi tão agressivo quanto o esperado, mas é correto dizer que a recepção para Smash A Single Digit surpreendeu. Afinal, embora o álbum Apex Predator – Easy Meat tenha sido lançado já há três anos, a canção foi recebida e comemorada como um clássico das antigas, mostrando que os fãs permanecem realmente próximos do Napalm Death por aqui, valorizando todas as fases de sua longa carreira.

‘Trotando’ de um lado para o outro do palco na sua maneira característica, Barney deu sequência ao show incendiário, fazendo apenas algumas pausas breves para se hidratar (nessa altura o calor já era intenso) ou para explicar o conteúdo de algumas letras (e sem perder o fôlego!). “Nós estamos com uma nova coletânea no mercado, Coded Smears and More Uncommon Slurs”, ele anunciou, antes de emendar Standardization, música que abre a referida coletânea. Mais uma vez a recepção surpreendeu. Como é bom ver que o Napalm Death só cresce por essas terras! “Nós estamos na ativa há 37 anos, desde 1981! E esse é o ponto mais distante em que podemos leva-los conosco nesta história. A faixa que dá nome ao nosso primeiro álbum” – acho que não preciso dizer que o mundo simplesmente pareceu desabar com a intensidade primordial de Scum. Naquele momento, não havia simplesmente uma única alma no local que não se agitasse, em convulsões loucas e ritmadas, um espetáculo à parte.

Como que para dar uma pequena pausa, o Napalm Death executou dois de seus maiores clássicos, com o perdão do trocadilho. You Suffer e Dead vieram em sequência. “São duas músicas completamente diferentes, espero que vocês tenham notado”, brincou Greenway, lutando para se desvencilhar do cabo do microfone. Com o show se aproximando do final, era inevitável que a banda trouxesse um de seus maiores clássicos, Suffer The Children, do indefectível Harmony Corruption, de 1990, um dos melhores álbuns da fase death metal do grupo. Nazi Punks Fuck Off, cover de luxo do Dead Kennedys também não poderia ficar de fora da festa, mas foi com Inside the Torn Apart que a apresentação dos ingleses chegou ao fim. “Cuidem-se, em breve estaremos de volta”, anunciou o vocalista de uma banda que mesmo após quase quarenta anos, ainda permanece imperturbável no trono do metal extremo mundial.

Cerca de meia hora depois do espetáculo infernal dos ingleses, era hora do CANNIBAL CORPSE entrar em campo. Com o time alinhado – Alex Webster (baixo), Paul Mazurkiewicz (bateria), Pat O’Brien (guitarra), Rob Barrett (guitarra) e o gigante George ‘Corpsegrinder’ Fisher (vocais) – a lenda norte-americana chegou detonando com uma sequência do seu mais novo álbum (Red Before Black, 2017). Primeiro, Code of the Slashers, uma faixa com partes mais cadenciadas, e que ganhou um belíssimo videoclipe no ano passado. Na sequência, Only One Will Die, rápida e destroçadora, um convite para os ‘circle pits’. Para finalizar, a faixa-título, Red Before Black, que manteve o clima quente nas rodinhas que iam se criando na plateia. Com uma movimentação no palco comedida, Fisher se destacava tanto pelos vocais quando pela ferocidade de seu ‘headbanging’, enquanto os demais músicos permaneciam extremamente compenetrados em suas respectivas partes instrumentais.

Lançando mão de toda sua experiência acumulada em décadas sobre os palcos dos mais variados países do mundo, o Cannibal Corpse usou de inteligência na próxima sequência: reuniu suas faixas mais cadenciadas em um único turno, como se desejasse de fato esmagar a cabeça dos presentes com o peso descomunal de sua música: Scourge of Iron (Torture, 2012) e Evisceration Plague (Evisceration Plague, 2009) passaram sobre os presentes com a força de uma prensa hidráulica, com as guitarras de O’Brien e Barrett forçando os crânios como uma morsa. Outra das novas, Scavengers Consuming Death chegou para finalizar o serviço, um pesadelo de sangue e terror esculpido em nome do death metal da velha escola americana!

Trajando uma camisa com a arte da capa do mais recente álbum do Krisiun, o recém-lançado Scourge of the Enthroned, Corpsegrinder dedicou a próxima música ao trio gaúcho que comanda o death metal nacional. The Wretched Spawn terminou por ser a única do álbum de mesmo nome (lançado em 2004) a figurar entre as tocadas nesta noite. Pounded Into Dust (Bloodthirst, 1999) e Kill or Become (A Skeletal Domain, 2014) mantiveram o foco na ‘fase Corpsegrinder’ do Cannibal Corpse, mas é claro que o ex-vocalista do Monstrosity nunca se mostrou reticente em tocar músicas originalmente interpretadas pelo seu antecessor, o lendário Chris Barnes (atual Six Feet Under).

Como que para comprovar o que estou afirmando, a banda mergulhou diretamente para o seu lendário segundo álbum, Butchered At Birth (1991), de onde vieram com a sensacional Gutted. Dona de riffs únicos (e simples), a música ofereceu a Rob Barrett a oportunidade que ele desejava de se ‘comunicar’ com o público, e o guitarrista se aproximou mais da plateia, onde tinha a chance de olhar cada um dos mais sortudos nos olhos. Devoured By Vermin, A Skull Full Of Maggots e a incendiária I Cum Blood mantiveram a máquina do tempo ligada, com Corpsegrinder desafiando os presentes a acompanhar seu ‘headbanging’. “Vocês irão perder”, ele disse entre risos, “mas ao menos terão tentado”.

A sequência final da apresentação veio com uma das tríades mais mortais do death metal: Make Them Suffer (Kill, 2006), Stripped, Raped and Strangled (The Bleeding, 1994) e a inevitável Hammer Smashed Face (Tomb of the Mutilated, 1992). Depois dessa, não haveria mais como seguir o show, todas as energias haviam sido devidamente esgotadas, e os sorrisos estavam estampados em todos os rostos. “Continuem apoiando o death metal”, exortou o vocalista, para finalizar uma noite lendária, que parecia mais fruto de imaginação do que realidade. Uma noite que, assim como no exercício que propus no início do texto, não poderia conceber um único vencedor. Duas lendas estavam ali, e todos nós éramos os vencedores por presenciar este momento, antes de toda essa história se tornar uma lenda.

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